E se bastasse uma pequena gota de saliva para verificar se alguém está, ou já esteve, infetado com o novo coronavírus? Pode parecer futurista, mas em Portugal um grupo de médicos e investigadores liderados por Nuno Rosa, professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e investigador de um dos seus laboratórios, o Saliva Tec, sediado no campus de Viseu da UCP, está a trabalhar no desenvolvimento de um teste desse tipo. E os resultados não podiam ser mais promissores.
"Estamos ainda a recolher os últimos dados, mas os nossos resultados mostram que a ideia funciona, a prova de conceito está feita", garante Nuno Rosa, sublinhando que o grupo está agora "na fase de encontrar parceiros para desenvolver e criar um teste miniaturizado para aplicação em larga escala".
O caminho até lá é complexo, mas o objetivo é ter o teste disponível, "talvez, em meados do próximo ano, se tudo correr bem".
A ideia de criar um método para detetar, não só a presença de partículas do SARS-CoV-2, mas também de anticorpos contra ele, usando apenas uma amostra de saliva, surgiu de forma natural entre os investigadores do Saliva Tec. Afinal o que ali fazem é isso mesmo: investigação sobre este fluido biológico, que é muito rico em informação, para aplicação ao diagnóstico em saúde.
"Trabalhamos nesta área há anos, e em 2014 ganhámos um financiamento do Portugal 2020 para montar este laboratório, o único no país especificamente criado para a investigação fundamental nesta área", diz Nuno Rosa. E explica: "Usamos a saliva como fluido informativo sobre a saúde e a partir daí desenvolvemos estratégias de diagnóstico para diferentes patologias, nomeadamente a diabetes, para a qual já temos vários estudos publicados."
Ao contrário do que acontece com as análises sanguíneas que são hoje rotina no diagnóstico em saúde, a saliva, apesar de ter muita informação biológica - contém mais de quatro mil moléculas diferentes e outros tantos microrganismos que, no seu conjunto, são o microbioma oral -, está muito pouco explorada nesse sentido. "É necessário fazer essa investigação fundamental, estudar e estabelecer os parâmetros que para cada molécula definem a diferença entre a saúde e a doença, para se poder operacionalizar ferramentas de diagnóstico a partir da saliva. É isso que fazemos no Saliva Tec ", explica Nuno Rosa.
Entretanto, surgiu a pandemia. Com todas as suas vítimas, os pesados problemas económicos e as muitas restrições sociais que gerou, a covid-19 acabou por ser também uma oportunidade de desenvolver investigação inovadora, que poderá agora ter um impacto positivo na saúde da comunidade, num momento difícil e cheio de incertezas.
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